Ilustra publicada na sexta-feira, 13 de março de 2009,
data de aniversário da cassação do Ex-prefeito Esmeraldo Tarquinio, que foi eleito em 68, e destituido do seu cargo.
Sua queda foi um grande símbolo da perda da autonomia da cidade por conta do regime militar.
Sementes
Lavrei a terra.
Adubei-a com água e sal
Dos olhos, meus
E da companheira
E dos amigos fiéis.
Vamos à colheita
O trigal apendoou
Demos graças a Deus
"Eles conseguiram o que queriam", gritava no Paquetá, quarta-feira, alguém no meio da multidão. E todos sabiam que as tentativas foram muitas, começaram cedo demais, principalmente para quem, aos 18 anos, já fazia parte do Partido Social Sindicalista e, logo depois, do Partido Socialista Brasileiro.
Eleito vereador em Santos pelo PSB em 1959, em 1962 chegou a deputado estadual pelo Movimento Trabalhista Renovador. Tentou a Prefeitura pela primeira vez em 1965, perdendo para Sílvio Fernandes Lopes. Reeleito deputado em 1966, pelo MDB, em 1968 consegue finalmente ser prefeito de Santos, com 45.210 votos.
Já diplomado, faltando apenas 48 horas para a posse, foi cassado.
O racismo, sabe-se, foi uma das razões, assim como o fato de muitos poderosos da época, em Santos, não aceitarem como prefeito um negro que, ainda por cima, tinha idéias socialistas. Mas poucos duvidam que tudo não tenha começado em 1965, durante uma palestra na Associação dos Reservistas Veteranos da Fortaleza de Itaipu. Depois do discurso de Esmeraldo, um oficial o chamou de comunista, aos brados, e mandou que fosse limpar as latrinas de Moscou.
Foram anos duros, sem dúvida, e em 1978, na sua volta à vida política, comentava as dificuldades de resistir à cassação. Mas estava começando de novo. Em 1979, era eleito presidente municipal do PMDB.
A autonomia não veio mesmo, e perguntaram se Esmeraldo aceitaria ser prefeito nomeado de Santos, caso Franco Montoro fosse eleito governador do Estado. A resposta foi essa: "Sem eleição, não! Só escolhido pelo povo. Já me disseram várias vezes que eu deveria aceitar uma nomeação caso Montoro fosse eleito governador, porque seria única e exclusivamente uma devolução do que me tiraram. Gente, sou um homem que procura ser realista, embora muitas vezes seja sonhador. Ora, em 13 para 14 anos houve uma alteração séria no colégio eleitoral de Santos. Temos aí cerca de 45 por cento de eleitores novos, que não me conhecem ou apenas ouviram falar de mim. É evidente que eles não foram chamados para dizer sobre o prefeito que desejam. É preciso que eles sejam ouvidos pela primeira vez e os demais serem novamente ouvidos. É preciso que o povo se manifeste: o senhor será ou não será prefeito. Nomeação, não!".
Mas as pressões continuaram, o nome Esmeraldo Tarquínio e o que ele representa contrariavam, ainda, os interesses de muitas pessoas. Triste mesmo foi ver que membros do seu próprio partido ajudaram a fabricar estas pressões, por puro oportunismo.
Esmeraldo não está mais aqui.*
*Texto publicado no site 'Novo Milênio', em 25/03/05
link: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0285p.htm
Esmeraldo Tarquínio